10.1.07

Eu e Letícia

Ontem nem dei
importância
quando passei em frente ao
hospital pedalando a bicicleta
– exercícios; preciso cuidar da saúde, não? –
e vi um aglomerado
de gente com a
expressão
preocupada. Até
pensei, num instinto
de vida,: “as pessoas
morrem mesmo,
não adianta chorar”.

Também não dei tanta
importância quando
me disseram, no mesmo dia,
“ficou sabendo da
Letícia? Está no hospital! Teve
cinco paradas cardíacas! Mas
ela não morreu, ainda.” Até
respondi mecanicamente
“tomara que
ela melhore.” – e por quê
me preocupar,
se conversei com ela
apenas duas vezes na
minha
vida saudável?

Mas no outro dia,
quando montei na bicicleta
novamente – por quê
eu deveria parar de
pedalar? –, minha amiga Natália me
disse, com calma e serenidade,
“que dó, né? A Letícia
morreu.
Foi hoje de manhã, pouco
depois do sol nascer”
. Só aí que me
veio uma estranha
sensação no peito
- seria a morte dela
ou a minha? – e
pensei: “a vida
é boa demais
pra uma moça
perdê-la
com
apenas
vinte
anos.”


Obs.: Letícia tinha um belo sorriso, quando sorria, e uma estranha seriedade no rosto, quando não sorria. Me lembrei disso hoje.