Sobre as unhas sujas
Estou sentado no velho apartamento
com um prato de
cenouras e beterrabas
na mão, e vejo nelas
a fúria que talvez
nem Tison teve ao
morder aquela
orelha (elas nascem presas
à terra, como os homens).
O alecrim é um tempero imóvel
e madeiroso, como
algumas vidas
comuns; como a vida
de meu pai, do feirante
e do pasteleiro, dos viajantes
de menos de 2 Km, e dos
jardineiros que não
tiram férias (as raízes
daquelas rosas o prendem
ao chão).
Poderia pegar o próximo avião
para a China, e sentar em frente
à muralha, esperando
por um segundo de paz. Mas quão
estúpido eu seria se buscasse
a minha paz em um muro
distante. Poderia
ir a Machu Picchu esperar
que os espíritos de lá
me dissessem o que fazer da vida,
(como se os espíritos daqui
não pudessem fazê-lo)
ou iria à Amazônia
tomar um porre de yage, esperando
a salvação enquanto os mosquitos
me mordem; mas quão estúpido
é sair de casa como
se a vida não estivesse
aqui, e eu, fora dela,
precisasse encontrá-la.
Eu poderia ficar dias sem tomar
banho correndo pelas
estradas da América e tentar
ser o novo Kerouac... mas
que espécie de ser perqueno
seria eu, se precisasse
fugir do mundo
para fazê-lo surgir?
(Quando Cabral viajou em caravelas,
não foi pra encontrar o novo mundo,
mas para levar o mundo velho para terras
que não eram suas).
Minhas unhas me prendem
à terra, e debaixo
delas uma
fúria se esconde: eu não
estou preso ao mundo,
mas é o mundo
que está preso em mim.
com um prato de
cenouras e beterrabas
na mão, e vejo nelas
a fúria que talvez
nem Tison teve ao
morder aquela
orelha (elas nascem presas
à terra, como os homens).
O alecrim é um tempero imóvel
e madeiroso, como
algumas vidas
comuns; como a vida
de meu pai, do feirante
e do pasteleiro, dos viajantes
de menos de 2 Km, e dos
jardineiros que não
tiram férias (as raízes
daquelas rosas o prendem
ao chão).
Poderia pegar o próximo avião
para a China, e sentar em frente
à muralha, esperando
por um segundo de paz. Mas quão
estúpido eu seria se buscasse
a minha paz em um muro
distante. Poderia
ir a Machu Picchu esperar
que os espíritos de lá
me dissessem o que fazer da vida,
(como se os espíritos daqui
não pudessem fazê-lo)
ou iria à Amazônia
tomar um porre de yage, esperando
a salvação enquanto os mosquitos
me mordem; mas quão estúpido
é sair de casa como
se a vida não estivesse
aqui, e eu, fora dela,
precisasse encontrá-la.
Eu poderia ficar dias sem tomar
banho correndo pelas
estradas da América e tentar
ser o novo Kerouac... mas
que espécie de ser perqueno
seria eu, se precisasse
fugir do mundo
para fazê-lo surgir?
(Quando Cabral viajou em caravelas,
não foi pra encontrar o novo mundo,
mas para levar o mundo velho para terras
que não eram suas).
Minhas unhas me prendem
à terra, e debaixo
delas uma
fúria se esconde: eu não
estou preso ao mundo,
mas é o mundo
que está preso em mim.
1 Comments:
verdade... eu bebado tinha feito uma capa melhor... mas o que conta é o conteúdo, e o livro é bom, apesar do egocentrismo do post.
falando em bebado... cara, já usou i-doser? ele simula sons e muda a frequencia do cérebro e faz com que a gente sinta o efeito das dorgas sem usá-las...
usei uma tal de hand of god ontem e conheci o deus metal, cara... cara... indescritível...
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