20.2.07

Todas as festas de amanhã

Eu e minhas coisas vivemos
num eterno conflito: é a guerra
entre o que deixei de bom
pro mundo e o que o mundo
me impediu de deixar de bom pra ele. Tenho essas
coisas e elas me têm na mesma proporção
em que almoço, respiro, cago,
me levanto pro trabalho. Já não
olho mais pro céu
e me pergunto“o que faremos
amanhã?”, porque
todas as respostas
já estão em minhador-de-cabeça.

Tenho medo desse futuro
tão conhecido, tão familiar. Amanhã
minha mãe ou meu
pai morrerão e finalmente
vão parar de reclamar de
tudo o que faltou
em suas vidas: uma filha!
um carro mais caro! um
médico na família! mais
comida no prato!

Eu não fui médico, nem
vidente, nem padre (Deus é pai!). Preferi
essa vida estranha dedúvidas limitadas,
onde as coisas que eu compro
me possuem enquanto
finjo que não conheço o futuro. Tenho
sempre a arma na cintura, o medo
nos olhos e uma fina dor
no peito – é meu enfarto
me esperando. Perco tempo com
poemas e
,quando menos percebo,
sou só meu pai com
outras rimas e
outro emprego.