23.9.09

as frestas da casa

Sinto falta daquela tua
velha ausência, ainda que
hoje ela seja
a única
coisa que
me reste.

Me sinto pequeno
sobre a imensidão
da minha
cama (tão triste ela
sem o lençol
vazando pelas
beiradas).

Às vezes acordo com saudade
daquela dor nas costas
de sextas-feiras,
de que eu tanto
reclamava.

Quando me cubro para dormir
nos fins de semana,
a tua ausência me raspa
a nuca com unhas
longas - e eu me
arrepio, um frio
na espinha
que vai direto
ao núcleo
da carne.

O vazio preenche
as frestras
de casa, (o vento
gelado passa por ela,
como um intruso).

Ontem coloquei o banquinho
encostado na porta da cozinha
com uma revista por cima
enquanto eu picava
cebolas. Tentei não chorar,
mas as cebolas foderam
com tudo...