2.8.11

Deus é a palavra
que em sua tessitura
contempla toda a estranheza do mundo.

Deus é isso.

Onde se diz coisa, se diz Deus.
Onde se diz homen, se diz Deus.
Onde se diz nuvem, se diz Deus.
Onde os moinhos moem, se diz Deus.
Onde o poema nasce, se diz Deus.

Onde meus pés se cansam, se diz Deus.
Onde nadam os girinos, se diz Deus.
Onde seu pai te olha, se diz Deus.
Onde seu pai chora, se diz Deus.
Onde seu irmão te ignora, se diz Deus.
Onde a noite termina, se diz Deus.
Onde há sopa quente te esperando, se diz Deus.
Onde há o silêncio, se diz Deus.
Onde os gatos fogem, se diz Deus.
Onde não se diz nada, se diz Deus.

Deus é isso
Deus é aquilo.
Deus são as coisas.
Deus é linguagem.
Deus é o Ser das coisas em um mundo sem coisas e sem Ser.

Deus só não é o não-ser,
que ele é a prova
de que ele mesmo é Ser
em sua presença triste e incontestatável.

Porque haveria prova mais verdadeira e feliz de que Deus existe
do que olhar para fora da janela
e saber que ali onde não há nada, toda a solidão do mundo se esconde?