12.9.10

o cemitério dos vivos

Olhar para a foto de um morto,
sentir em sua
imobilidade
o terror e o
vazio da VIDA

(Neal olha para o lado, parece
não saber que ia morrer à
beira de um trilho, consumido
pelas drogas
com o vento batendo
em seus cabelos - movendo,
lentamente, na ponta
da cabeça, o único
resto de homem
que se expressa
no sopro tímido
da natureza)

OLHOS arregalados
magro, a magreza
que lhe contorna
o crânio e o pescoço sustentando
por um pilar de arames
e nervos: uma bola de cálcio
o cérebro
onde o passado se aninhou
galhos sobre galhos
o ovo da arte
a gema, a Palavra
- DEUS se esconde ali,
é uma bolha
de luz!

(Kerouac o abraça,
eles riem juntos - será
que sabiam que
a escrita os torturaria até
o ultimo segundo? e a traição
o desespero - aquela
máquina de escrever, que ele espera
trancafiado para
exorcizar-se, antes que a morte
chegue [a passos largos
a morte vem, correndo,
com pressa,
galopa em teu frágil corpo de homem
se chama fogo?
alma? PALAVRA!?]
E então você se pergunta, tudo o que vivi
VALEU À PENA!?)

Lima me encara. Seus olhos negros
me dizem "LOUCURA",
sussurram "venha...
te espero aqui, vem
comigo, me dê a mão,
ELA é contagiosa",
já não sabe quem é, ele mesmo,
espera pela morte - quando
bebo, quem está em
mim? quando escrevo, que espécie
de monstro se apodera?

os coloco na estante, descansem
em paz, me deixem dormir,
SAIM DE MINHA CABEÇA

essas fotos, vazias,
sem cor,
esses livros empoeirados
(estou ficando velho)
palavras que correm de lá para cá enquanto
durmo, debaixo de minhas cobertas
(algumas tem asas, outros chifres,
dentes horríveis, me engolem, mastigam-me
em seus sonhos A BOCA ABERTA
DE TERROR) a morte me espera,
dorme comigo

TENHO QUE ESCREVER!!!!

Bakhtin, seu cigarro aceso
o rosto decrépito
me encara e pergunta
"não vais fazer a grande obra?"
"sabias que comer merda é despertar para a vida?"
os dejetos de sua boca

ele está morto
não pode me forçar
a nada
(mas permanece, a fria caricatura, a fumaça sai da ponta
de seus dedos,
parece um morto-vivo)
- VIVO?
- ONDE?



Na estante,
o Cemitério dos Vivos,
a estante:
o CEMITÉRIO DOS VIVOS

1 Comments:

Blogger Mura said...

Outra vez: fudido.

7:30 da tarde  

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