18.9.07

A facada da felicidade

Andando pela beirada praia
de Santos com os
pés descalços e os
chinelos na mão,
tento fundir-me com a
natureza para pensar sobre o esgoto que corre a céu aberto em minha vida.

Eu deveria estar
me divertindo. É isso que fazemos
nas praias. É isso
que a tia velha com
o molenga mapa mundi
estampado na gordura do rabo (e o meridiano
de Greenwich atravessando
o cu do mundo) quer fazer! Não
é isso que aquela
criança que acho inocente - mas não é -
deseja ao criar a frágil arquitetura
dos castelos de
areia? O que querem
essas gentes todas, algo
além de se divertir? O que
quer esse velho tiozinho
analfabeto vendendo sorvetes
senão ganhar dinheiro com
a diversão alheia para poder
ser feliz qualquer outro dia
em qualquer outro lugar? E eu, com os
pés sob essa areia, entre
o mar e os prédios
da cidade, entre a civilização
de homens e o mar natural, o que
faço embebedado de
tristeza e pensando
sobre as merdas da vida?

Parece até incoenrente
gastar tanto dinheiro
pra vir aqui
em Santos e não ficar rindo à toa bêbado, não fingir
uma falsa felicidade e estampá-la
para meus amigos em um sorriso de
jégue! Pôxa, pra que ficar
triste na praia, amigo?... esquece
tudo isso de poder, saber,
ciência, solidão, o amor livre,
a física quântica, facadas
internas que golpeiam
teu estômago e inundam com
ácido gástrico teu coração.

Sorria!, você
está sendo bronzeado!

Mas é andando nessas
areias com a tristeza
de quem sabe estar solitário que me
sinto melhor hoje, bem melhor que ontem,
quando o álcool me passou uma rasteira
e acabei dormindo
em cima de uma panela com
arroz
feijão
ovo frito com gema mole
solidão
e uns resquícios de baba.

Ninguém mais está
andando pela praia
rastreando
os grandes pedaços de bosta
que bóiam em
nossa direção, nem os
animais mortos comendo
areia na costa
do país, muito menos
buscando a explicação que
diagnostica a loucura
de cada um de nós.

Todos estão caminhando pela
praia e só conseguem ver nela a coisa
que não está nela: a felicidade. Não
entendem que ela
,a felicidade, antes de tudo,
está perdida
no buraco negro dos
olhos, escondida no labirinto
do coração, de onde nasce e
de onde nunca sairá. Não entendem que não
existe droga no mundo
que te bloqueie as
lágrimas dos olhos, nem lugar
algum que te exorcise
do passado.

Estar aqui, estar ali, na beira
da estrada, nas ilhas do Havaí,
na piscina do hotel, nas baladas
de Santos... tanto faz para
mim! A felicidade é nômade,
anda junto com nossos
corpos, costura-se
com o universo nesta malha
de experiências que é o homem!

Felicidade,
estrada sem fim em que me obrigam
a dirigir em alta velocidade,
mas que não consegue
existir se a alegria dopada de
todos que amo me vigia
com uma arma na cintura
e uma faca na mão.

1 Comments:

Blogger Mura said...

Me divertir. Talvez a única verdade da busca humana.
Porém, "são as expectativas que fodem a gente por trás". Já pensei me divertir muito, acho que só consegui, de fato, em algumas poucas vezes.
É bem isso, "sorria, vc está sendo bronzeado", ou ainda, "Use filtro solar"...

2:12 da manhã  

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