19.8.10

Relendo alguns poemas que escrevi há alguns anos atrás, me dei conta de que quase todos são detestáveis, por um único motivo: porque eu sei o que eu queria dizer com eles. Eles não me dizem nada, a não ser que agora sou um homem diferente. Estes poemas novos, eu não sei do que eles são feitos, eles olham para mim ameaçadoramente - querem me engolir, me mastigar em suas bocas negras, empurrar-me guela abaixo e digerir o pouco do que sobrou de mim.

É só passar uns dias preso em si mesmo, na solidão de quem precisa escrever, mas não consegue, que você começa a perceber que tudo o que escreveu nunca será bom o suficiente. Sempre faltará aquilo que, para quem escreve, é inacessível: o booooom, aquele estouro, aquilo que intriga.

Se me perguntassem o que quis dizer com esses poucos poemas dos últimos meses, não saberia responder, simplesmente porque não quis dizer nada. Não tenho pretensões quanto a ser um escritor, e estes poemas estão neste blog para apodrecerem... já é ridículo o suficiente escrever um texto falando disso agora.

Quanto mais você envelhece, mais percebe que não é suficiente para você mesmo. Esta angústia nunca vai fugir; de fato, é ela que nos move.

Antigamente eu guardava fotos, fazia questão de tirá-las sempre, com meus amigos, com minha família, nos lugares novos onde visitei. Hoje, me envergonham até estas fotos antigas que de mim só carregam o rosto... a verdade é que eu não quero nunca ser lembrado pelo que fiz ou deixei de fazer. Não sou herói, não cabe a mim ser um dia antiguidade - para falar do tema de Baudelaire.

Tenho uma aversão horrível pelo tempo e pela memória. Estes poemas são reflexos disso; antes, eu pensava que não-pensar seria o melhor para todos, e ficava tentando transformar meu pensamento em palavra contra o pensamento. Hoje, simplesmente não penso, não deixo rastros de mim pelo mundo.

A única coisa que me impele a escrever são estes fantasmas, que me rondam de madrugada... meu avô, meus velhos amigos, estes poemas horríveis, as pessoas que me odeiam. Eu escrevo para tirá-los de mim, e quando os vejo no papel eles voltam, cada vez maiores... e quanto mais escrevo sobre eles, mais me silencio, mais eles se transformam em silêncio.

Não há coisa mais devastora que o silêncio. Ele é a linguagem da morte. Não só porque mortos não falam, mas muito mais porque é impossível falar da morte. Benjamin estava certo quando disse que a melancolia vinha à tona sob a forma de uma fantasmagoria. É o espectro de um mundo devastado, em que a memória se esfacelou, e o futuro se tornou inalcanssável.

Eu sou o Anjo da História, preso ao catastrófico limite que é o presente.

2 Comments:

Blogger Laís said...

Essa angústia não é o que me move. É o que me amarra as mãos e os pés.

1:03 da manhã  
Blogger Mura said...

Há dez minutos não sei o que escrever aqui.
Cada parágrafo leva mil anos pra ser lido, e uma tonelada de peso pra se carregar.
A beleza está na verdade como estão escritas.

9:40 da manhã  

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