14.3.07

Outubro 2005

Na tevê a noite se reparte
em fofocas, novelas, enlatados
americanos
e no espelho só um embaço. São
onze horas da mais escura noite, em outubro.

Tenho 18 anos e uma gastrite. Odeio
a vida
que é cheia de enfarpos, de dores
e espinhos, a vida,
esse direito de morrer a qualquer
dia; de ser livre pra ser triste;
de vender-se
e ser vendido; de ter
pau pra não gozar.
Esse direito de todos,
que nenhum ato
institucional ou constitucional
precisa cassar ou legar.

Mas quantos amigos sorrindo!
quantos em cárceres invisíveis
onde a noite fede a indústria e progresso.

Estou aqui. O espelho
não reflete a marca deste rosto,
se simplesmente passo por ele
ou se não grito se me moldam.