14.2.09

A fúria da vida

Deitar na chuva e se
molhar de barro, cheirar a terra
e escorregar, lavar com grama
a ferida e sujar
com sangue
o solo; ter pernas
como se tem raízes,
mas arrancá-las
com a violência
de todos
os homens de bem.

Meu cabelo molhado
é uma dádiva. Entre
meus olhos, ele
se insinua feliz.

Aqui, não sei
se são chuva
ou se são lágrimas
estas coisas que
escorrem no
meu rosto.

A água dissolve
todas as palavras
enquanto os trovões queimam o mundo
e minha mãe
se irrita por
eu não querer
me secar e
troucar de roupa. Mas um
banho quente me
destruiria nesse
instante!, me
tornaria outra coisa
que não
a chuva... ela
nunca entenderia; é
isso que as mães
fazem: elas não
entendem a chuva.

Se eu morrese sob
um raio, nunca
poderia pensar sobre
morrer sob
raios; se eu ficasse
gripado, toda minha fúria
se resumiria
à violência
de um espirro.

Mas eu não morro.

Eu escorro, como
a chuva, e faço
um poema pacífico
sobre a fúria
silenciosa
da vida.