19.5.09

As vértebras do tempo

Sempre tive medo
de não
viver o suficiente.

Hoje minhas costas
doeram. Doeram e
travaram meu corpo. Meus dedos
não tocam a ponta dos
meus pés. O estranho
desconforto de envelhecer
antes do tempo me
marretar as vértebras.

Tenho 22 anos,
e não tenho
mais gastrite. Tenho uma
paz estranha que nasce
de dentro e impregna
o queijo do
almoço, a bisteca
frita na pequena
frigideira, o suco
de goiaba, as conversas
em óleo e vinagre. Parei
com a pimenta, parei
com o café, parei
com meus cigarros. A palha
já não queima o tabaco, e meu
cheiro é mais agradável.

A vida pára em
voltas estranhas,
como as pessoas
presas no alto
das rodas gigantes.

Mas eu não salto lá de cima,
porque o tempo, mesmo parado,
ainda gira,
e eu não pulo
da vida antes que
ela pule de mim.

2 Comments:

Blogger Mura said...

É isso aí, Pina, ainda acho que o problema de TODO MUNDO é o medo de morrer. Enquanto esse medo não trava a gente, ele pode servir até de impulso, e a arte também conhece bem esse impulso.

12:17 da manhã  
Blogger Laís said...

"And I am not frightened of dying,
any time will do, I don't mind.
Why should I be frightened of dying?
There's no reason for it,
you've gotta go sometime."

12:23 da manhã  

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