17.7.08

Seqüestro relâmpago

Eu nem percebi quando ele
passou pela sala
e tocou meus
pés debaixo
da coberta
em que tentava
esconder-me.

Puxou-me pro chão, pisou
em minha cara, riu
de mim, disse que
eu não podia ficar aqui parado
enquanto o mundo
pegava fogo lá fora
me esperando pra
tomar um café com
o futuro.

Depois sentou ao meu lado
me olhando sangrar,
tirou do bolso o jornal
para ler os quadrinhos
e disse que só sairia de lá junto
comigo, que me levaria com ele
, que não adiantava
fingir que ele não
existia.

Eu o olhei com medo.

O que eu poderia
fazer? Brigar
com ele que não ia,
porque era luta perdida
antes mesmo de começar. Eu havia
adiado aquele encontro por
anos e anos, e no fundo
eu sabia que ele vinha
me pegar, só não
me dei conta de que ia
ser hoje, aqui, assim
de sopetão, enquanto
assistia ao Rambo e
percebi que havia
uma guerra lá
fora e eu não
poderia ser
o filho do meu
pai pra sempre;

o Tempo me
sequestrou
e não pediu
resgate.