26.6.07

Esquecimento

César abriu os braços com empolgação e gritou bem alto: “Voltei, pessoal!”.

José, Alberto e Wesley eram os três amigos adolescentes que o esperavam na frente do aeroporto. Olharam-no de cima pra baixo com o rosto cheio de espinhas e espanto: rodeado de malas, a pele alisada, a barba feita, o cabelo cortado, o corpo todo colorido por roupas estrangeiras, o semblante da alegria pendurado em seu nariz de palhaço: se fosse o mesmo, ainda seria outro.

- Pôxa, que saudade de vocês. Nossa, vocês não têm noção como senti falta de meus amigo nessa viagem. Eu conheci gente, mas nenhuma era tão especial quanto vocês! Nenhuma! Nossa, me bate uma coisa boa em ver vocês! Lembro das tantas vezes que saímos juntos, das piadas, das festas desses 8 anos em que nos conhecemos. Quanta saudade! É saudade demais, meu Deus!

Enquanto César caminha rapidamente para abraçar seus amigos, os três recuam: dois passos para traz: o passado despenca sobre nossas cabeças: desconfiança: uma rasteira que nos apunhala pelas costas.

Alberto tira da cintura o 3-8tão de seu pai e manda dois tiros na testa de César, que cai no chão em silêncio ensangüentado. Agora, uma pedra sorridente estendida no piso do aeroporto.

José acende um cigarro e caminha lentamente de volta para a casa. Wesley comenta com os dois enquanto come pipocas: “ele sempre foi um idiota, né?”. Alberto guarda a arma na cintura e responde: “o importante é que túmulos não são esquecidos”. Os outros dois concordam balançando a cabeça silenciosamente.

E o resto não se sabe: o futuro é esquecimento.