7.3.09

Sei que as coisas
tem sua forma
e seu cheiro,
sua carne e o sangue
que delas escorre
quando as cortamos
com as palavras. Mas também
sei que não há como esquecer
o que se fala quando
o cheiro da
carne nos invade
as entranhas.

Não sou muito diferente
do lixo que jogo
fora. Se não sou
a merda que
cago, é uma mera
questão poética
dos intestinos.

Os homens são feitos de
palavras mais do que
ossos, gordura,
pele, matéria morta,
os 73% de água
e um coração
cansado; não são
o peito e as axilas
tão cabeludos quanto
as palavras
que deles
brotam ou
que neles
se instala.

O homem é esse bixo estranho
feito de palavras,
que não cheira a comida
que come,
que beija a mulher que ama
e que escreve poemas
na madrugada.