15.9.06

Viajar é perigoso

I
Quem sabe dos
perigos de teus pés? Teus
pés não sabem
dos perigos de teus pés. Teu
sorriso não sabe do perigo de teus
pés.

II
Viajar é preciso. Viajar
é perigoso. Morrer é preciso,
pra que o vivo seja
novo. Teus pés
morrem aos poucos. Teus
pés morrem por
outros. E não
sabem, teus pés, que do
outro a vida
gira em torno.

III
Gozar
não é preciso. É preciso
viajar. E viajar é perigoso,
como teu passo é
perigoso, como teu
pai é mentiroso,
como teu sonho
é perigoso, como o teu
sonho é mentiroso, como sonhar
é teu pé, e teu pé
é perigoso.

IV
Anda por andar e
se fecha no
teu sonho. Teu pé
não sente o peso
da fadiga de teu
corpo;

V
Nunca soube
onde chegar:
viaja todo o dia
porque a vida é uma viagem;
viajar é perigoso.

VI
A cada dia, uma
morte escondida
em teu corpo. Viajar
é perigoso, como
a morte sem
teu gozo é o destino
sem sentido de
teu sonho
perigoso.

VII
Viajar é perigoso.
Mas viajar é preciso pra
que o outro
seja vivo e
não haja perigo
na vida
do outro. Viajar é sua
sina; viajar é perigoso.

VIII
O teu gozo
é mentiroso.
O teu gozo é
viajar, e viajar
é perigoso.