27.5.08

A inconsistência das coisas

Amanhã a lua pode desaparecer como
o mundo todo
desaparece num
piscar de olhos - mesmo que volte num
átimo da consciência, já é
outro mundo em
outra consistência.

É dessa massa de todas
as formas de todas
as cores e de
todos os cheiros
que a vida é feita e refeita
a cada segundo
de todo
dia do
mundo.

Um dia ela está ali e te
beija a boca
e te escava com a língua
o coração; no
outro, foge
com o primeiro
trem sem nem te dar
adeus; qualquer dia a rua
se abre em vulcões
e dos céus
surgem os discos voadores
de outros planetas
e....... boooooom!, tudo
acabou.

Hoje, o amor é uma
gota de chuva sobre a rosa mais
feia do jardim; amanhã, pode
ser belo como se nunca houvesse antes sentido um orgasmo
a alheios trinta e seis graus
célsius; quem sabe do
futuro sempre se engana,
pobre coração.

A inconsistência das coisas
é o terreno
fértil das minhas esperanças
de terça-feira
de insônia.

20.5.08

A eternidade é um
sopro
passageiro da
monotonia.

Se todos os dias fossem
completos de felicidade,
eu estaria na Disney,
não em Buenos
Aires; se fossem
coloridas
todas as fotos,
com certeza
eu gostaria
de estar
cego.

O cheiro da tangerina
é doce por
cima, pro fundo
é azedo. Não
é tão diferente
da fruta-do-conde
espinhoso e
do coração
dos homens.

Eu sou azedo e triste,
às vezes me surpreendo.

Antes isso que
a inocência
do eterno
sorriso com
mal hálito.

8.5.08

a janela

Um dia senti saudades
de uma sacada. Deixá-la era
deixar todo um mundo
claro como
o miolo do sol, horizonte
que se anunciava
no infinito que
nenhum par
de olhos
pode alcançar.

Hoje tenho medo
de deixar pra trás
a velha janela do edifício
Caiobá, onde um grande
tentáculo de concreto
revela em suas
entranhas opacas
toda a profundidade
da cidade invisível
como o
coração
dos homens.

É que a saudade
é esta
coisa estranha que dói na ponta
dos dedos e se encarna
no tempo presente
do meu corpo
cansado de
quarta-feira
à tarde.

2.5.08

sobre feijoadas e outras peripécias

fazer aniversário é uma frescura muito besta. todo mundo nasce, ninguém se torna especial por isso. um ano a mais, um ano a menos, é tudo questão de aceitar ou não que você está preso ao tempo, que é um animal temporal. fazer festa e ganhar presente faz parte do cinismo de quem precisa de uma desculpa pra celebrar a vida, pra se embebedar. a questão das datas eu tento olhar com ironia. hoje, quero apenas ver o dia passar como quem olha a chuva e se pergunta porque as gotas não usam relógio de pulso (porque elas não têm pulsos, obviamente). eu apenas olho os prédios molhados de Londrina com calma e serenidade, e penso que esse é apenas um dia comum e que, de tanto sê-lo, torna-se, de alguma maneira, especial.

obrigado, nuvens,
por celebrarem.