31.3.08

sobre as coisas, o amor e suas ironias

Quando eu via coisas novas
e pensava
,submerso em suas formas de luz,
"como seria tocá-las com a ponta da língua?",
era mesmo porque eu
começava a ficar louco. Eu
sonhava como seria o
gosto da cor vermelha
sob o toque do paladar
(saborear o sangue que se insinua debaixo dos lábios rosados).

Mas agora eu estou são,
e minha boca se fechou junto com minhas pálpebras.

Agora eu não sinto nada
,não quero sentir nada,
e o que era um pequeno orgasmo do desconhecido
(a estética redescoberta pela cabeça do meu caralho)
se transformou nesta fria
faísca de linguagem: poema, arte assassina.

29.3.08

pimentas geladas

Quando alguém termina alguma
coisa com a gente, mesmo
que nunca houvesse havido nada,
a gente sente aquele
tesão frio
na ponta da língua,
e é aí que a gente sabe que
quando houver o próximo beijo
(e isso, caso haja)
será estranho como
morder
pimentas geladas.

E é assim que
aquilo que não
havia
se acaba.

19.3.08

Flashs Londrinenses - parte 1 de um bom tanto de partes que eu não me recordo

Segurança do tamanho de um armário
Ô moçada, não quero ser chato, mas cês precisam ir embora...

Pina, o bêbado
Pôxa, com toda essa força, não tem nem como tentar ficar...

Segurança do tamanho de um armário
Que isso... força quem tem é só aquele lá de cima... eu sou um mero instrumento...

Pina, o bêbado que grita
MAS QUE INSTRUMENTO, EIN!!!!!!!


(e a comuniade gay alternativa de Londrina me observa, com paixão vazando os olhos)

17.3.08

A tarde vazia,

lá longe, o sol, ainda
o mesmo,

queimando meu
cabelo
com
a ponta
dos dedos.

A geladeira
cheia, tão
fria que me
prende
a língua se
a beijo.

No centro do mundo,
eu, meu umbigo
e uma gastrite
a trinte e seis graus celsius.

11.3.08

Própolis com açúcar

Lá no fundo
de um mundo paralelo,

- longe de qualquer pensamento ou epistemologia -

o silêncio incendeia
a madrugada
fria: incenso,
cigarro, dois
corpos em
atrito.

Passa a brisa
entre os prédios
de Londrina:
cheiro de menta,
cimento, cravo
e melancia.

Dois poços de mel me
encaram: dissolvo-os
sob a língua molhada
- e o resto do mundo
se apaga enquanto
mordo pedrinhas
de própolis com
açúcar.