2.11.06

Poema de Finados

I

não há morte
na hora
marcada;

a morte
é constante
e calada;

o homem
até define
o momento em que
se extingue
,se uma arma leva à boca,

mas não controla
,em cada segundo que vive,
a morte
que o devora



II


silêncio;




é o som
triste da morte
(aquele
que ensurdece,
nos fere o
tímpano,
martela a cabeça),

a estranheza do mundo,
essa tristeza
não de quem morre
um dia, mas
todos


III


o anjo
sobre a pedra
me fita
profundamente
no calor da
manhã em novembro;

é verão,
e a vida é quente,
queima
o sangue na veia
,vermelho
intenso, e a Terra é
confusa e bela
como um sol;

mas o anjo é cinza,
duro, denso,
e me fita os olhos
como quem
espera
a noite de inverno



IV

são flores
dentro do
vaso por cima
da pedra e da cruz;

o morto
não cheira,
não pensa,
não move,
não chora,
não ama,
não entende a homenagem;

mas o vivo,
o homem
em frente
àquela pedra,
que acendea vela e reza e chora e morre
e vela e leva o vaso,

esse sim
precisa das flores



V


os portões estão abertos, o morto, lacrado, e o vivo
,esse pedaço de carne-osso ambulante, caminha, lentamente, na morte cotidiana...