24.12.09

JEREMY DISSE: BOOOOOOOM!

Sou tão livre que nem sei por
onde começar, poeta tirano,
senhor de chifres
que se apóia
em sua espinha e em teus
ossos de ferro e chumbo,

CORPO, no centro
do universo, sem cérebro, todo
nervos e gritos, a liberdade
de não querer andar,
sentar-se em frente
à geladeira
e esperar sua garganta inflamar
e dizer palavras sem
sentido, desprezíveis,
intactas, guturais, e então
fazer do canto uma
forma de morte
gritar o grito gutural,
rasgar a garganta
.......... um fio
de sangue.

Eu sou livre não porque em volta
de mim não haja poder a acorrentar-me,
mas porque há um poder sem
limites dentro de mim,
indeciso e intransigente, que pede
todos os dias para
não ser o mesmo, e nunca
saber quem se é
e ser o abismo,
ser sem saber
por onde
começar.

9.12.09

O poeta é o pedaço do mundo que se estica madrugada à dentro sob um colchão de carne e abocanha as palavras e as condena ao abismo sombrio da própria garganta, o grito (o horror! o horror! destruam todos os brutos!) sem ter por onde passar sem olhar para os lados esperando a morte que o persegue e que às vezes é preciso despistá-la (morrer, morrer, meu Deus da morte, carregar-se até o infinito da vida, virá-la do avesso, esperar por um segundo de paz - a morte, a morte, a morte -) terror dos homens em suas vidas calmas, a calmaria das estrelas os ventos polares os monges de braços abertos (usurpa-te profeta da luz, usurpa-te da própria poesia, faz da palavra o mistério dos aflitos, faz com que ela seja lição de pedagogia, mostre-a às crianças e peça-as para inquirí-las, queime-as na fogueira (os poemas nunca merecem o mundo dos poetas) e enfia-lhes uma lança no peito - senhores deuses cantos a dizer ABRAHAMMUNDODEDIDIDIAA!!!!! BATE- nos olhos !) SUMario Dá a vida pra quem quer
daaaaaaaaaaaaarrrrrs dirzersada ROçizerial, o mundo sob o olhar de quem quer dizeeeerrrrrr algo sobre o que não diz nada 0e9djsj (soldados, soldados, o poema é este pedaço de carne a apodrecer entre as palavras) suspendam-no ergam-no façam-no beldade enfiem-lhe o nariz na guela solvam com os dentes raspem com as línguas ANGUR, MITUR, IGTUR, FRAZ, GRAZ, HANKS, branquichava, senhores-muco-deuses mortos-em-corpos-solitários profetas sem sonhos sonhos de deuses sem nomes nomes sem deuses palavras ao vento (TRÁGi-direeaeeeeeaaaaaar´éééia asd JRJT djkçlmad. vap]ons
ml~vaiapsomo´l
gbjopa
aomsodjdkvd \SAMFDKOA salmd sm,slaori dor ror dor dor dor dor dor dor dor dor rod doas dasdjas ror rod ririd dpoeoeoeoeoe dorororor rorororororororordeps aaasapra ssss ssu suumm suuummm spraddasd RARR RARRR AMÁGUA PERDER-SE MORRER-SE ALTURIZAR-SER_CORRAM, corram, corram!!!! as palavras te perseguem fefrriri asdlkaskd RÀ, às mãos por sobre aos montes - caguem-se e comam lakshr vrá vrá vrá, cráquitepuiacerto, mandaquyórtes quiexpluda a M´SUCICA A M´SUCIA O ERRO, bandalerite, alguem averigue a verdade por sobre SIRMTARTZU

O POETA é DEUS, o poeta é Deus o poeta tem o mundo sobre a ponta das unhas a terra o envolve - a TERRA O ENVOLVE- senhorcatapulta-sonhosfrustradoshomens-gelados-amorsemcandura-tremem os céus- os deuses disseram que sobre um pote de luz e de estrógeno e queratina e proteicos-monstros da consciência - quem sou eu, junkie food ambulante drogas a corromper o pensamento poema sem dádiva clamorrrrrr da morte

A função do poeta é a função dos deuses: morrer no tempo e tempo-fazer-se, correr por linhas-sem-frontes abraçar-o-mundo com o gesto de alegria


TRA TRA RRRAAAAA HARASRITITUIACAMANGONA- WARTAEEEEEEEEE CAMARIPTUCRAIAMóRSTIFODREPRACRAPACROBAINA tra TRÁ, VRá, trá giasrurlescro, trépido, crônico, crômico, cômico, obsoleto

sedam-me
e voltem
para a escola

7.12.09

O exorcismo do passado

Sente os ossos por dentro, sente? A fria dor dos ossos, que de dentro pra fora chicoteiam-te os braços, queimam teus nervos e liberam a pestilência do teu passado. Não há nada mais rasteiro e peçonhento que o passado, a tua vida antes de ser você agora, o antes do hoje, aquele dia estranho em que te cravaram cinco balas no peito, uma faca nas costas, o pau no seu cu, o sonho pérfido de sonhar com o futuro. Queira você ou não eu estou aqui e aprendi muita coisa, e sei dessas coisas porque morri nelas; me chamam de impiedoso, ou talvez não me chamem de nada, mas é que (o que eu fiz aquele dia, pegando na mão dela e ela de repente pulou pra trás com o espanto como se eu fosse o demônio a puxá-la para o inferno e eu quase bati o carro porque era grosso e estúpido e não sabia lidar com aquelas coisas, e hoje vejo que foi melhor assim que ela me odiasse sem entender o amor que senti por ela, o amor passageiro que eu sabia que ia acabar e que ela transformou em ódio e eu a odiei por isso sem saber, e naquela noite em que bebemos caipirinha como se fôssemos pequenos deuses nos telhados lúgubres de Londrina, caminhando e rastejando pelo apartamento encarpetado onde certa vez eu a toquei com a língua e o seio - e por isso mesmo um dia fui chamado de hipócrita, e não sei bem porque, porque o mal não é amar, nem destruir-se no amor, mas muito mais dizer que não se importa - e foi bem naquela casa revestida de colchões que eu soube, por um momento, por um segundo, que as pessoas não cabem na palma de nossa mão - mesmo que seus seios estejam lá, mesmo que as toquemos por baixo, mesmo que nossa língua salive por elas) isso seria coisa de gente impiedosa, apenas querer e não ter tido resposta, deixar-se levar por certas coisas. O cigarro na janela, ela veio em casa, um trimilique no peito, me disse algo que eu sabia que não era verdade, mas eu acreditei assim mesmo, e ergo as mãos para o céu para agradecer o quanto fui ingênuo aquela noite, e sei que já não o sou, e por isso dizem que sou rancoroso só porque aprendi, com meu próprio passado, obecendo-lhe em tudo o que ele me disse, que é preciso esquecê-lo, que ele não é digno de permanecer em você (as barbas do meu bigode, o fio ruivo e gigantesco que escapa-lha, amanhã, talvez, senhores, a velhice me bata e eu sinta vontade de esquecer tudo isso que eu disse, e eu sei disso, porque no passado há muitas coisas e pessoas, há luzes e gente que corre pelas ruas gritando coisas estranhas, há loucos e pérfidos, há violência como nunca se viu, há aqueles que em suas mãos tem tudo e atiram para o alto e há aqueles que não tem nada e seguram esse nada com uma convicção idiota, impossível de se acreditar) eu estou mesmo é ficando velho, e sei que me tornarei um velho sem coração - e acho mesmo é que, numa dessas noites em que te fodem pelas costas, arrancaram meu coração e eu nem percebi, esconderam a cicatriz (lá dentro, bem dentro da carne, onde ninguém pudesse vê-la) e levaram-no embora para colocá-lo num pote de picles. E eu gosto disso, talvez ele tenha ficado gostoso lá, quem se importa? Sei que tiraram um peso do meu corpo, e se me transformei nessa pedra pesada e estranha que já não chora senão quando sabe demais o que é (e é por isso que eu não queria saber quem sou, pra que pudesse permanecer sempre assim, inocente, sem compreender meus erros, sem cair no poço infinito de quem pensa que sabe o que é), eu olho pra mim mesmo e sei quem não sou: eu não sou aquele que estava lá atrás e que foi deixado sem nem um poema poder ter escrito, sem poder dizer adeus, e que foi encontrado por uma estranha coincidência na hora errada, e que disse a Deus que queria que eu fosse padre "o senhor mesmo me tocou quando eu não sabia o que você queria, e agora que sei que você não existe, sinto uma imensa segurança em pensar em você e beijar teus pés e te adorar como o grande vazio da vida - obrigado, Deus, por ter morrido e ter matado assim o nosso passado, o passado desses homens que pecaram por amarem-te demais e que nunca irão se arrepender de nada, porque o conhecem bem o suficiente para não reconhecerem seus próprios erros", foi bem assim que eu deixei tudo para trás.

Mas uma coisa que ainda dorme aqui e que sempre que eu a vejo, lá longe, vestida com roupas estranhas e um sorriso inquieto, correndo pelo lago ou rindo bêbada ao som de uma voz gutural, é que tudo foi mal compreendido, é que todos entenderam errado, é que eles venceram porque eu não tive como ensinar-lhes: ó homens, filhos do vazio, loucos acorrentados que têm nessa corrente a maior das liberdades, vocês sabem mais do que eu a respeito da vida, sabem matar e pisar naqueles que te amaram, sabem sorrir impiedosamente de suas maldições, sabem reclamar da vida a todo instante, sabem não amar a si mesmos e nesse ódio mortal contra a vida destróem aqueles que estão ao seus lados e pensam que são o centro do universo - porque só no centro seríamos capazes de não nos perdermos - vocês que elogiam a loucura porque não sabem o que ela é, e que se soubessem não se entregariam às suas sombras, vocês que riem dos próprios defeitos, da própria crueldade, e depois correm aos palanques pedir desculpas, botar a culpa no álcool e nas drogas, botar a culpa nos outros, vocês que elogiam o descontrole apenas na medida em que é riso e palahaçada, mas que nunca se perderam, nunca puseram seus chinelos na mão e sua camiseta roxa cavada e andaram pela praia de Santos sem saber o que deviam fazer, vocês que nunca afogaram-se madrugada à dentro num turbilhão de sonhos frustrados fedendo a arroz feijão e ovo frito, vocês que não tiveram folhas atoladas no cu por um desconhecido enquanto seus amigos o chamavam de covarde pelas costas e suas pupilas dilaceravam-se e cresciam até o infinito, à beira do coma, no sono profundo de quem vê e não mexe as pernas!!!! AH, vocês não sabem o que é isso, perder-se completamente, pegar cacos de vidro espalhados na areia de santos, pensar que é louco por uma só vez, e não saber qual caminho tomar, chegar de manhã na escola com os livros na mão e só conseguir chorar, e sem saber por quê, e se sentir um grande idiota por não saber por quê, e correr como o diabo para dentro do quarto escuro, ouvindo músicas tenebrosas que te espremem o pescoço!, vocês que nunca atolaram seus olhos em ovo frito com gema mole e acordaram no outro dia achando que não teriam mais pescoço por baixo da cabeça, e que se sentiram sozinhos, extremamente sozinhos, infinitamente sozinhos, e que só precivam de um pedaço de papel para escrever, e você não sabia porque, vocês nunca passaram pela experiência da morte (isso vocês nunca aprenderam mesmo, porque fazem o elogio da vida pelo o que ela não é, juventude triste e solitária, que cultuam deuses em formato de cigarro e cheiram deuses brancos e finos que no pulmão transformam-se em coragem descontrolada e violenta, que te fazem sentir Deus porque vocês nunca puderam ser Deus sozinhos, sem esses Deuses dentro de vocês) - a vida pra vocês é isso? trepar, beber, foder, sorrirem como bobos porque destruíram leões e violentaram paredes? A verdade é que vocês não saberão nada da vida até que tenham morrido, morrido até o limite, matado-se, transposto o limiar da razão, afundado-se em no seu próprio interior, ter tocado o Vazio-primordial, o Nada e a potência da Vida lá onde ela é sombra e dores e sangue e estrume e sexo e Deuses demolidos... só lá, na morte, vocês saberão o que é mesmo a vida, essa que pede a todo momento que você morra e esqueça o futuro e o passado e o presente, e que implora para que o tempo seja uma ampulheta frita numa frigideira e temperada com requeijão e tomilho... só nesse lugar você saberá porque sou cruel e baixo e não perdôo o passado, mas por uma única razão: a vida está aqui, e não lá, e vocês me mataram sim, todos vocês, mas foi tão somente para me dar essa vida, essa única e bela vida, essa morte essencial, o último grande suspiro do meu diafragma que, lá de dentro, daquela cicatriz onde meu coração foi puxado para fora, agora pode criar uma morada; lá eu vivo sem passado, e deixo que vocês fujam para esse sonho frustrado que é a vida antes da morte.

Você é Jim Morrison, você está morto

Não deixe a raiva
tomar conta
de você! Não deixe
que teu pau
endureça e te leve pelas
estradas solitárias
da punheta que fode
o mundo; não deixe
que você se encontre com Deus
e sua vagina de
LSD e sua mente de poeta
e seus olhos vermelhos
de dor e sofrimento
não deixe que os teus bagos tomem
conta de teu corpo,
não deixe que o esperna inunde
teus ouvidos e a merda
corroa a tua alma;

não pense que você irá
se encontrar com uma verdade maior
nem que os anjos
te levarão daqui
porque às vezes
as portas da percepção são
também as portas
que te arrancam os
dedos;

não atole a própria língua no
cu, Jim Morisson, seu boçal
espírito funestro
da juventude, utopia
de zumbis a caminharem
sem vida pelas calçadas
rumo ao centro do sol
com seus cabelos esvoaçando
e os dentes caindo
podres e verdes
no chão, semeando a morte com
caninos de vampiro
e regando a terra
com o sangue de tua
estupidez;

Jim Morrison, você
está morto, você morreu, você
enfiou os pulsos por dentro
do cu, afundou-se na própria
merda e virou do avesso e os dentes
ficaram no cu e a boca comeu
merda. Jim Morrisson, profeta
do cu de ácido, dentes mastigando estrelas
sob o céu noturno do Alaska, castigo
eterno do mundo, senhor-muco,
cérebro frito à milanesa queijo
dos póros cabeça ensebada
do pau monstro atroz
mancha de
sangue no
inferno transeunte
da lei da ilusão
morte inútil e vida perdida
cavaleiro sem
cabeça a caminhar pelas
estradas noturnas
da humanidade, eu te digo,
Jim Morrison, você
está morto, você está
morto, não se esqueça que você morreu,
não se esqueça que seu
corpo podre sumiu do
mundo, não se esqueça
nunca que sua vida foi inútil, e que os
Deuses todos clamam pelo
castigo que um dia
irão lhe aplicar.

Jim Morrison,
canto de liberdade suicida,
combustão da morte em liberdade infantil,
sonho perene de ser Deus na podre carne do homem,
morte concêntrica que se morre em negatividade,
pau solitário que sangra o próprio rabo e chama isso de amor,
loucura simulada que espera por um raio de luz nas frestas das cavernas,
triste tragicidade que se dilacera em nome da razão,
monstro solitário escondido sob a máscara conivente de poeta,

Jim Morrison,
seu pedaço de merda,

você morreu!