20.1.10

INSÔNIA

Incendiado pela noite
meu cérebro não dorme
quem sou eu
por trás da fina
ironia, arremesso lateral
para o fim
do mundo.

QUERO comer o mato e cortar
livros com uma faca
dizer aos mortos
o quanto são felizes
debruçar-me em uma pilha enorme de discos retorcidos
cantar no chuveiro canções sobre armas nucleares
e sussurrar noite a dentro
poemas esquisitos
como as antenas
das baratas.

Meus olhos estalados não me deixam pensar
não me deixam dormir não me deixam nada
e meu intestino preso, nada de mim
sai, nem os horrores da morte
nem os sonhos pérfidos nem
os restos de utopia
que comi no almoço
nem resquícios de um passado

a revolução acabou,
meu sono acabou, os gregos acabaram
não sobrou nada do amor
para que pudéssemos deixá-lo
para nossos filhos.

QUERO fumar, mas não
tenho cigarros; a última bituca
foi a chuva que apagou.

Quem se importa com o café,
quando uma bomba de cafeína
te ilumina a madrugada
e tudo o que você quer
é dormir como
um urso-tamanduá
pendurado em bambuzais de feno enérgico.

Nem a noite me deixa
sonhar.

10.1.10

Cinco centímetro de sangue
correram por
minha garganta - era um
poema empedrado
preso sobre
um trágico
desfecho BRA-rU-BingRu

Cravado no coração,
a mão dos
Deuses. A mão
de Cristo no
meu pau: amor
comunguem
arrauto-malto seu mestre
dirá quando
for a hora
e TE RECOLHERÁ = para
o inferno você
não vai

QUando eu morrer, serei dono de minha morte
e pularei para dentro de um vulcão
e de lá só saio quando
for cinzas, e vida, que a vida
é isso, o resto
é respirar
sem sentir cheiro
foder a parede
cheia
de cogumelos.