28.9.11

Em meus dedos o mundo
debaixo de minhas unhas,
o mundo.

Que dor pulsa entre a carne
e a unha
que dor fulgura em teu
crânio denso
cheio de esquecimento
pairando na bolha
de éter e morte
que é o real.

Com que violência teus
dedos se cravam à
terra, com que força
oculta teus olhos te fincam na existência

com que olhos é preciso ver
com que ouvidos é preciso ver
com que língua é preciso
sentir - do outro lado
ao vazio QUEM QUER QUE SEJA
COM A MORTE ENTRE OS DENTES

.........
pode você
almoçar o mundo
e amá-lo
ao mesmo
tempo?
........


TENHO SONO
QUERO ÁGUA
o CORPO é o filho que te abraça

A madrugada amiga
seu céu de estrelas
escondido por trás das nuvens

ESCURIDÃO




A palavra é luz em meio ao vazio
a palavra é estrela que te queima as bochechas
a palavra é fogo
buraco negro
o vazio feroz de laranja
o fim do dia vermelho
sete anos a mais e tudo isso será pó.



(beija-me-beija-me-beija
que de mim nada resta
senão o vazio
de quem tem a língua
mas quer calar-se)




Deus é intenso, um erro, um anjo mal
seu suspiro é o canto da sereia
a loucura que te toca co a ponta dos dedos
e arrasta as unhas
em sua nuca
te lambe a medula
te injeta o veneno
o fogo intenso
a morte esparsa
o silêncio na ponta
da lâmina
da lágrima


Não há fuga: o mundo é mundo, mesmo onde não é mundo, o mundo é mudo, mesmo onde é palavra, negatividade afirmada.

Todo NÃO é um SIM,
prelúdio da loucura,
eclipse dos deuses,
crepúsculo
aurora que aflora no sangue do espaço, nas vértebras do tempo.

(na madrugada procuro, por trás da loucura, detrás das luzes, obscuro como estrelas, palavra sem fundo, Deus, o inencontrável!)

8.9.11

A mão na garganta
por dentro dos nervos
por fora do tempo

TE CORTA E RODA E RODA

e leva a morte contigo
e teus pulmões inflados
e tuas mãos manchadas
de sangue
e terra
e trovão

Que as sombras sob teus pés
são rastros de morte

Que as sombras em teu corpo
cansado de solidão

Abre teu peito com a faca
quebra as costelas
e abafa em teu crânio
o pensamento

E MOVE A MANDÍBULA
E CORRE PRA LONGE
E CRAVA NO CHÃO
teu corpo
pesado.

E planta teus dentes na pedra
e a rega com o poema
e lambe o coração do vazio
e acorrenta teus pés
na cidade e grita teu nome
ao avesso
enquanto salta dos prédios mais altos

CORRE SOBRE AS NUVENS
E SE LANÇA AO CHÃO

que de nada servem asas
a quem não tem pés