28.4.11

Como ser um licantropho?

Quando a noite chega
(de onde ela
vem?, meus olhos
não a viram escapar por detrás
daquele fundo
de mundo chamado horizonte)
brilha a lua (a imensa
e noturna testa do céu):
é LUZ é VENTO é o CRÂNIO PULSANDO EM DORES ESTRANHAS.

De dentro de mim um
homem outro quer
nascer(talvez um
animal de garras e pêlos
com sangue negro
e um apego infinito a
Deus, talvez um monge
carregando seus livros pesados
à sepultura
de terra e alecrim) mas quem mesmo sou eu

-subterrâneo-

por debaixo de mim?

Uivo pela janela
o chá esfria
como um corpo de homem
que se lança à morte
(mas eu estou vivo,
posso me tocar, posso sentir
meu gosto no céu da
boca, ouvir meu coração
se o silêncio pairar
por um mínimo segundo),
e minha cabeça pesa
,cheia de história,
cheia de memória,
cheia de esquecimento.

(porque esquecer é lembrar de quem nós somos)

O peso do mundo é meu peso.

À noite sou o monstro preso
a uma torre
que chamo de casa - lá fora o mundo
se mostra o mesmo, me condena
à solidão.

Quando sonho,
tenho a vida nas mãos,
mas ela escapa entre
meus dedos de licantropho.

Não há espelho que reflita meu rosto.

O LOBO me olha no OLHO:
quantas noites mais
você
sobreviverá, raro espécime
de ser humano que
,por não saber seu nome,
lhe chamo
de EU?