7.4.09

Sobre coisas bobas

Os franceses dizem
que querem
a liberdade, mas sempre
fazem do jeito
mais complicado. Eu os achava
bobos como as crianças
ao ler
o livro do André
Breton que tem nome
de mulher, mas que de mulher
mesmo ele só fala depois
de 40 páginas com coisas
estranhas. E eu
achava engraçado também que
ele, falando tanto
das coisas simples
e automáticas
e das belezas convulsivas
- como as espinhas, vulcânicas da pele -
e de tudo isso que antes de ser livro
já era manifesto,
não conseguia escrever realmente
sobre bobagens.

Quando ele encontrou a tal
da Nadja, ele ficou conversando
com ela sobre o trabalho
e o tempo livre e
a liberdade - acho que
ele conversava com a própria
mãe como quem faz um manifesto -
, e eu
,lendo tudo aquilo,
só queria saber se ela
era tão bonita quanto
parecia ou
se era mesmo convulsiva
como os livros
que ele pretendia
escrever e as espinhas
que na minha cara
a Duda costuma
apertar.

3.4.09

Uma coisa eu queria
que houvesse
em todos os poemas.

Que eles fossem furiosos
como a vida, que
fossem ritmados
como os
espirros.

Uma coisa eu queria
dos meus poemas,
que eles fossem bêbados
de cachaça, e pudessem
correr sozinhos
por aí a falar
besteiras.

Eu queria mesmo é que
os poemas fossem isso,
mas eles não são.

E eu fico até contente de
saber que o poema não
é a vida,
senão eu apenas
escrevia, e o resto
todo era uma
piada.

1.4.09

Quando eu me olhava no espelho e me via feio, feio de doer os dentes por dentro, e escrevia poemas sobre a feiura pra ver nas palavras alguma beleza, era mesmo porque eu estava endoidando. Hoje eu estou calmo, estou tranquilo, nada tenho na cabeça senão a cabeça. E em mim, lá onde a gente parece que sabe das coisas, hoje eu sinto falta daquelas coisas bestas. Porque hoje eu leio meus poemas antigos e vejo minhas fotos velhas como quem sente pena. E quando eu não sentia pena, vivia cada problema como o último suspiro antes da morte e não pensava que tudo aquilo era bobagem, que ia passar mesmo.

As coisas passam, e são bonitas... e nós somos bestas de aceitar que elas passem antes delas terem passado.

Hoje eu sei que eu gostava de ser feito e de escrever poemas sobre ser feio. Mas já não adianta...
Um desespero, lá no fundo
da vírgula, no
hífen trêmulo, nas coisas
da linguagem. No fundo,
lá no fundo, bem
no fundo,
dentro de tudo
quanto é
traço, letra, bicho,
lá no fundo do
humus, das minhocas
no mucu, das
rosas esparsas,
dos homens
sem graça, lá no fundo
do teu rabo,
o cu, no mais longe
que você
procurar, o centro
da Terra, o magma
encantado...

...lá no fundo, dentro
de tudo, no ruído
mudo do poema
não há
absolutamente
nada.