A sacada deixará
saudades. Nela já fumei muitos
cigarros, bebi muito café, contei
histórias de circo, mulheres
barbadas e longas madrugadas. Foi lá, aliás,
que ri ao ver as estrelas e
pensar “E que diferença
elas fazem por
estarem aí? Talvez
fizessem se estivessem
no meu bolso”.
É só o presente, mas já sinto
tanta falta. Foi aqui, onde agora
tomo o último copo de
café e puxo o último
trago de cigarro, que
ficamos bêbados e discutimos entre
amigos nossos dias de heróis vendo
a Rua Belo Horizonte e
sua estranha calma
solitária.
É estranho, mas é verdade. Essa sacada deixará
saudades, até porque
o novo apartamento só tem janelas – é uma
pequena cela onde você vê
a rua mas não a sente. A única brisa
será a do ventilador, e o cheiro das
ruas não entrará mais na sala.
Como pesa isso de
encaixotar meus livros, minhas fotos,
a roupa esquecida do Zé Davi
– um pedacinho que sobrou dum amigo que
partiu, como agora eu
parto. É tão simples: só estamos mudando
de casa!, mas é como se morrêssemos
ao deixá-la – igualzinho à morte
escondida num gole de
café, num trago de
cigarro, numa boa trepada
com uma puta qualquer.
E tão de repente me flagro pensando
seriamente: “Todos passamos nessa
vida” e, logo em seguida, penso ao
som do próprio riso “cara,
como somos clichês! Vivemos
buscando coisas novas mas só
estamos rodando como
água de privada.”
Sacou? A vida é uma piada: o amor é
um circo, a morte é um vício
e a casa não é nada.
A eternidade é essa coisa
estranha que preocupa
os sedentários, os urbanos,
homens que não
conseguem mudar
sem deixar de sentir um
vazio no peito,
esse sentimento de
perder coisas tão pequenas quanto
uma mulher,
uma festa,
uma briga,
uma brisa,
uma vida,
uma casa com sacada.
saudades. Nela já fumei muitos
cigarros, bebi muito café, contei
histórias de circo, mulheres
barbadas e longas madrugadas. Foi lá, aliás,
que ri ao ver as estrelas e
pensar “E que diferença
elas fazem por
estarem aí? Talvez
fizessem se estivessem
no meu bolso”.
É só o presente, mas já sinto
tanta falta. Foi aqui, onde agora
tomo o último copo de
café e puxo o último
trago de cigarro, que
ficamos bêbados e discutimos entre
amigos nossos dias de heróis vendo
a Rua Belo Horizonte e
sua estranha calma
solitária.
É estranho, mas é verdade. Essa sacada deixará
saudades, até porque
o novo apartamento só tem janelas – é uma
pequena cela onde você vê
a rua mas não a sente. A única brisa
será a do ventilador, e o cheiro das
ruas não entrará mais na sala.
Como pesa isso de
encaixotar meus livros, minhas fotos,
a roupa esquecida do Zé Davi
– um pedacinho que sobrou dum amigo que
partiu, como agora eu
parto. É tão simples: só estamos mudando
de casa!, mas é como se morrêssemos
ao deixá-la – igualzinho à morte
escondida num gole de
café, num trago de
cigarro, numa boa trepada
com uma puta qualquer.
E tão de repente me flagro pensando
seriamente: “Todos passamos nessa
vida” e, logo em seguida, penso ao
som do próprio riso “cara,
como somos clichês! Vivemos
buscando coisas novas mas só
estamos rodando como
água de privada.”
Sacou? A vida é uma piada: o amor é
um circo, a morte é um vício
e a casa não é nada.
A eternidade é essa coisa
estranha que preocupa
os sedentários, os urbanos,
homens que não
conseguem mudar
sem deixar de sentir um
vazio no peito,
esse sentimento de
perder coisas tão pequenas quanto
uma mulher,
uma festa,
uma briga,
uma brisa,
uma vida,
uma casa com sacada.