29.5.09

Santa mãe de Deus! Os Deuses voltaram, com armas nucleares nas costas, e com as barbas longas, e uma K-47 e granadas espaciais! Desceram na terra com canhões anti-míssel e disseram que se o John Lennon voltar a cantar, eles queimam as crianças em óleo fervente, como bolinhos de arroz. Tomara que o tempo passe o suficiente antes deles conseguirem o que querem! O que eu sinto na espinha, puta merda, aquela dor de quem senta torto frente ao computador! Quem irá dizer que tudo isso não passa de besteira!? A paranóia é uma coisa estranha... tenho medo da gota de chuva ser uma gota ácida. Preciso de mais remédios... aquela última caixa me deixou embriagado. Senhor, Deus, Senhor Santíssimo, coloco meus joelhos no chão por cinco segundos e rezo desesperadamente para que você não deixe os Deuses do espaço nos desintegrarem. Os aeroportos estão fechados para bandidos como aqueles crápulas verdes e pequenos! Vão acabar com o mundo! Eu sei, eles são piores que os fiscais de carrinho de cachorro quente... há toda uma máfia por trás da maionese caseira com cheiro verde que você come aos domingos com a sua namorada. Eu sei que as coisas andam estranhas, mas não esperava que fosse chegar a esse ponto! Virgem santíssima, quase tive um enfarto ontem à noite... uma luz estranha se acendeu, me disseram que era um planeta, mas parecia uma estrela, e eu disse: "mas essa porra está longe, longe" e me amordaçaram e disseram "aqui, aqui, aqui você estará bem" e me colocaram um casaco branco e disseram que aqui é meu lugar. Me deram um computador e esperaram que eu fizesse alguma coisa, e eu lembrei que poderia salvar o mundo hackeando do site do ministério da fazenda. Malditos, Malditos, vocês estão me olhando como uma coruja presa no aviário... os meus olhos são grandões! Vou te pegar, filhos da puta! Enfiar a faca no coração de porco de cada um de vocês... lunáticos, marcianos, estranhos, senhores-muco, peças estranhas do meu tabuleiro de xadrez! As peças me jogam... as peças me jogam... eu era o rei, e não me mexia mais que uma casa. Estou em uma outra casa, dizem que é a torre, mas é mentira, eu sei, é mentira. Quero voar com asas de pomba... pomba gorda, com os olhos vermelhos, as asas verdes e olhos de castanha: nózes, senhoras nózes com jambolão. Açúcar, açúcar, que desespero? Desespero? ONDE ONDE, FILHOS DA PUTA, TRANSFORMARAM O MEU TETO EM CÉU!!!!!!!!!!!

19.5.09

As vértebras do tempo

Sempre tive medo
de não
viver o suficiente.

Hoje minhas costas
doeram. Doeram e
travaram meu corpo. Meus dedos
não tocam a ponta dos
meus pés. O estranho
desconforto de envelhecer
antes do tempo me
marretar as vértebras.

Tenho 22 anos,
e não tenho
mais gastrite. Tenho uma
paz estranha que nasce
de dentro e impregna
o queijo do
almoço, a bisteca
frita na pequena
frigideira, o suco
de goiaba, as conversas
em óleo e vinagre. Parei
com a pimenta, parei
com o café, parei
com meus cigarros. A palha
já não queima o tabaco, e meu
cheiro é mais agradável.

A vida pára em
voltas estranhas,
como as pessoas
presas no alto
das rodas gigantes.

Mas eu não salto lá de cima,
porque o tempo, mesmo parado,
ainda gira,
e eu não pulo
da vida antes que
ela pule de mim.

11.5.09

Sobre os sonhos dos teóricos

Eu tenho um sonho, não nego. Quero que a voz dos homens se calem diante da estonteante realidade das coisas. Quero que os objetos esquecidos apareçam, como aranhas escondidas no sotão, e botem terror na casa dos velhos aposentados. Se a teoria fosse um esporte, eu seria sociólogo. Mas não sou. O que eu quero fazer é trazer à tona a maravilha esquecida das coisas. Quero que os mestres se ajoelhem diante do mundo que eles não conhecem. Quero que os objetos surjam de suas concavidades e os injetem veneno para matá-los de desgosto. Quero que o esquecido volte-se a eles e diga "estou aqui!, você não se deu conta" e mostre que o pensamento será sempre insuficiente para a grandeza do mundo. Meu sonho é que a teoria sirva para nos trazer essas coisas pequenas, os sapatos desamarrados, as músicas de elevador, o instante silencioso do café da manhã, o jantar que tem gosto de alho, a filosofia que não deu conta de explicar os cachorros de rua, o mio dos gatos... Eu quero que a teoria se erga da Terra como um pilar de pedras, e inquiete aqueles que dormem tranquilamente em seu sono epistemológico. Há uma guerra lá fora, e eu quero fazer parte dela. Quero estar do lado das coisas, lutar por elas, e ver o que ninguém viu, e levar a teoria onde ela não pode chegar. Eu quero que o mundo renasça de suas próprias cinzas, e que o inexplicável seja o espírito risonho de nosso apego sem limites à vida.

9.5.09

Quando as tartarugas buzinam
e te chingam no trânsito,
e os cágados com o dedo
do meio rígido
como um
cacete de diamante,
o mundo todo desce
do céu com
uma bola de futebol
e se encurva em tua
cabeça.

Pra que tanta pressa,
se a vida é longa
e a morte é uma constante?

Não quero comer sucrilhos
como quem deve a Deus
uma missa de domingo.

Meus olhos são só dois
para tanto mundo
e para a inércia veloz
com que ele gira
em torno
de mim. No meu umbigo,
uma piscina de exageros
transborda: o trem passou,
e eu não vi. Pra onde
eu fui e pra onde
eu poderia ir? Nem a epistemologia
pode me salvar de todas
as coisas que não
conheço, mas que
me espreitam com
o rabo do canto
dos glóbuculos.

Não há coisa alguma que nos escape
e não nos deixe
boiando sobre
uma líquida
angústia? Os objetos
que me cercam
e suas marcas de ciência,
onde estão as trevas
do mundo? Tudo em
minha volta
está pendurado por um fio
que não tem origem,
e que não está
preso em teto algum.