23.6.09

Não me reprovem na banca de mestrado

Eu vejo os homens e seus
desejos de liberdade
como quem olha
os leões
enjaulados e se
pergunta pra quê
que há tanta
juba?

Vejo os poetas
e seus
dias perturbados
em que as
estranhas pessoas
morrem e passam
pela rua carregadas por
fúnebres passantes
(nas costas da vida,
o mundo por sobre
um caixão
aos domingos! Adeus,
vovô, não se despeça
antes de
se despedir da
empregada
que bulinaste!)
e não há
muito do que lembrar,
dos poetas.

As noites escorregam,
o sopro do cigarro
faz desenhos, como
as nuvens fazem
desenhos, como
os pássaros desenham
nas nuvens
sua passagem que não
alcança o longe-longe
do céu. Está
escuro. Onde estou
eu, em pleno sol
do meio dia, preso
sob o teto que chamo
de lar e com o conforto estranho
dos homens livres
(como os porquinhos
fujindo do lobo
mau, que come
a chapéuzinho e no fim
todo conto de fadas
é uma grande
prova de que o imaginário é
nosso mais pesado grilhão).

Por sorte os homens
precisam comer rosquinhas,
dirigir carros, fazer
sexo, ouvir música - fazer músiva - ler
poemas, contar histórias
deixar-se contar na
boca dos outros,
fofocar, ouvir sussuros, botar
o ouvido na parede para ouvir
o gozo dos morcegos
sob as telhas
entre a laje e as estrelas
de que fogem (eles voam, mas
se escondem em cavernas,
como os homens); se não fosse
por esse monte
de inutilidades, acho que viveríamos
de dor alguma e estaríamos
condenados a fazer
literatura só com palavras,
sem matéria prima - sem
matéria prima (sem matéria
prima).

Eu vejo os poetas
como quem vê libertinos fodendo
com a própria vida; eu vejo
meus olhos como quem se
olha no espelho (só no
espelho, meus olhos)
e sei que o poeta
é um ser desprezível, um
ser desprezível, que não
sabe o que
faz da vida
(e que se soubesse, que sentido
haveria!?).

Libertar-se é a
arte de construir
prisões.

(sob os passos de quem ouve,
sob os passos de quem ouve,
sob os passos, toc toc,
aloha, mama mama, nada
manda a falta
de plllllllllllll111111
psiu, psiu, alô,
roça, parede, moinho de vento
cavalo, dom quixote
eu não te vejo
sem BRU BRU,
quem sussurra!?)